terça-feira, 29 de julho de 2014

GAZA, BRASIL E A BANALIDADE DO MAL


GAZA, BRASIL E A BANALIDADE DO MAL


Trem de judeus para Auschwitz 

Ontem assisti um filme sobre Hannah Arendt , onde ao acompanhar o julgamento do nazista  Erich Eischmann ela fala das razões que uma pessoa tem para fazer maldades.  Pensei muito nisso. Quem produz o mal coletivo como no caso de Eishmann não tem nada  pessoal contra nenhuma das pessoas atingidas pelo seu mal. É que ele escolhe abandonar sua consciência pessoal em nome do interesse maior do estado , voltando para aquela zona sombria que sequer se choca com a “banalidade do mal” por ela praticada. Hannanh  diz no filme que foi até lá esperando encontrar no banco dos réus um monstro, um ser abjeto e se espantou a encontrar um Zé-Ninguem; um ser humano assustadoramente normal, que só agiu assim obedecendo uma ordem, de acordo com a lei. Ele era só  um homem comum...  E Resfriado!!!!
Quando praticou tanta “crueldade” ele não teve como motivo nada radical nem pecaminoso, nem a julgava um crime de lesa-humanidade; não estava vinculado à emoções humanas como vingança, racismo,  ódio, semitismo,  xenofobia:  ele como tantos que cruzam conosco nas ruas e em imagens de TV, não tem o que ela chamou de “a grandeza demoníaca da maldade": ele era banalmente mal.
Hoje quando vemos o mal sendo cometido contra os palestinos de Gaza, analisamos o papel dos líderes judeus; é a faceta mais improvável da decadência moral  de todo um povo e uma liderança que ao longo dos anos quase se especializou  em assassinar o caráter de seu povo, em destruir a humanidade das pessoas, fazê-los cometer maldades numa escala tal que não os deixa distinguir entre o que é certo e o que é errado!!! Vemos muitas fotos do povo comum judeu, de bermudas colocando cadeiras nas colinas para “assistir” o bombardeio da faixa de Gaza!!! Esquecendo que a cada bomba explodida do lado de lá tinham pessoas morendo, logo ali na frente ....O bem maior do interesse do estado de Israel! O mal não pode ser banal, o mal é sempre extremo, tal é a sua abrangência e alcance! Já o bem pode ser sim total e radical ao mesmo tempo.
         Hannah Arend cunhou a expressão "banalidade do mal" após assistir o julgamento de Eichmann, ao observar que não se tratava de um monstro que enviava as pessoas para os campos de concentração, mas um homem absolutamente normal, embora medíocre. Ela, como pensadora (não gostava de ser chamada de filósofa, embora fosse) diz na obra "Eichmann em Jerusalém" que “a incapacidade de pensar como indivíduo  leva o homem a cometer as piores atrocidades”. A obediência cega, seja a um chefe ou a princípios, sem consciência crítica, pode resultar na barbárie. Por isso Hannah Arendt dizia que o que aconteceu, sob as ordens dos nazistas, pode voltar a acontecer em qualquer tempo. Ela estava certa.Voltou agora, e os atores que sofreram a ação da maldade, AGORA a cometem friamente.
No filme vemos a filósofa como uma pessoa comum, uma professora envolvida com seu trabalho acadêmico, suas aulas e pesquisas. Quando escreveu seu polêmico “Eichmann em Jerusalém” ela recebeu muitas críticas porque a julgaram defensora dos nazistas, logo ela que era  judia vinda dos campos de concentração na França ocupada. A análise dela foi desmistificatória; o carrasco nazista capturado na Argentina e julgado em Jerusalém em 1962, um homem visto por muitos como  um monstro, um ser maligno, um louco, cruel e perverso, na sua  percepção era apenas um  caráter medíocre, comum, um fiel cumpridor de ordens, que tinha uma  postura ordinária que o fazia igual à tanta gente, e isso causou mal estar entre todos os que defendiam a justiça e o bem.
Foi justamente a atitude de Eichmann que permitiu a Arendt cunhar a curiosa idéia relativa à “banalidade do mal”. Por banalidade do mal, ela se referia ao mal praticado no cotidiano como um ato qualquer, feito de maneira automática, sem muito pensar. Muitas pessoas interpretaram a visão de Arendt como uma afronta à desgraça judaica, mas  ela era uma  filósofa descomprometida com seu povo,  religião, partido ou ideologia; só tentava entender o que realmente se passava com a particularidade  de um homem como Eichmann.

Crianças do campo de concentração de Treblinka

A pensadora Arendt não adotava sua condição de judia como superior ao seu  caráter de filósofa  comprometida com a compreensão de seu tempo. A condição judaica era, para ela, sua condição humana. Não menos, não mais. O problema da individualidade,   das nossas escolhas éticas que provocam  nossa liberdade e responsabilidade, era a questão central naquele  momento para ela. Como hoje lá em Israel e Gaza, aliás!
A tese da banalidade do mal é uma tese difícil, não por sua lógica, mas por seu desempenho. Aquele que é confrontado com ela precisa fazer um exame de sua consciência particular em relação ao geral e, portanto, de seus atos enquanto participante de um grupo, de um estado e de sua  condição humana. A banalidade do mal significa que o mal não é praticado como atitude deliberadamente maligna.  O praticante do mal banal é o ser humano comum, aquele que ao receber ordens não se responsabiliza pelo que faz, não reflete, não pensa. As  pessoas comuns  tomadas pelo “vazio do pensamento”, como imbecis que não pensam e repetem  clichês e que são  incapazes de um exame de consciência.
Heidegger, o filósofo que diz ter se arrependido de aderir ao regime nazista, e que foi o amor e mestre maior  de Hannah era um gênio da filosofia e, no entanto  pouca coisa diferente de Eichmann.
O aterrador é constatar que entre Eichmann, o imbecil, e Heidegger, o gênio, está o ser humano comum. O nazista não  era diferente de qualquer pessoa, era um simples burocrata que recebia ordens e que punha em funcionamento a “máquina” do sistema! Do mesmo modo que cada um de nós pode fazê-lo a cada momento em que, autorizado pela  reflexão que une, em nossa capacidade de discernimento e julgamento, a teoria e a prática, e ai, seguimos as “tendências dominantes”, o “caminho da manada” como escravos livres de si mesmos.  

SAIR DA BANALIDADE DO MAL É FAZER A OPÇÃO ÉTICA E RESPONSÁVEL DO PENSAR E DESCOBRIR, ( NA CONTRAMÃO DA TENDÊNCIA À DESTRUIÇÃO, QUE CONVIDA  CADA UM A CONFORMAR-SE COM AS INJUSTIÇAS), UMA FORMA DE REAGIR .

A banalidade do mal é, portanto, uma característica de uma cultura carente de pensamento crítico, em que qualquer um – seja judeu, cristão, alemão, brasileiro, mulher, homem, não importa – pode exercer a negação do outro e de si mesmo.

Mais uma explosão de míssil em território Palestino.

Em um país como o Brasil, em que a banalidade do mal realiza-se na atitude autorizada, PELO AGIR DA MAIORIA, na homofobia,  nos preconceitos do racismo, no consumismo e no assassinato de todos aqueles que não têm poder, seja Amarildo de Souza, Chico Mendes, Irmã Dorothy   Stang, seja o adolescente negro da periferia ou da favela, o sem-terra que ocupou uma fazenda  improdutiva, uma parada DE TODOS NÓS PARA PENSAR, pode significar o bom começo de um crime a menos na sociedade que extermina e na polícia do  Estado transformados em máquina mortífera.


Contra os sem-poder, a truculência do  cumpridor-de-ordens.

Não nos esqueçamos que também somos tomados pelo “vazio do pensamento” quando repetimos os clichês disfarçados  de crítica contra o mal, quando separamos os  vilões dos  mocinhos, distinguindo pela aparência os opressores dos  oprimidos. São as mesmas que combatem preconceitos com outros preconceitos. 
As mesmas cabeças que vomitam valores isolados, aceitando a baderna dos  protestos públicos dos Black Blocks  justificados  erroneamente pela ausência  de algumas atitudes do governo. Melhor seria cada um  fazer  um exame particular e  olharmos de frente para o monstro que habita um canto sombrio de todos nós. E nesse auto-exame  deixarmos de ser “especialistas” na crítica do modo de agir e pensar do "outro".  Em nome de interesses pessoais, muitos abrem mão  do pensamento crítico, engolem violência e toleram conviver com aqueles  que desprezam.
Para mim, de maneira prática a  banalidade do mal está em não assumir o  papel de construtor de si e de sua nação, na falta de visão em enxergar o outro como igual, de se colocar no lugar do outro, ter respeito e de, ao invés de lutar a todo momento pela mesquinharia dos direitos individuais dentro do grupo,  abrir mão deles  auxiliando os outros no dia-a-dia. É o conhecido e evangélico mandamento de Jesus ”fazer aos outros o que desejamos que nos façam”!

A banalidade do mal em nosso povo está ligada diretamente ao fato das pessoas estarem se tornando tolerantes  com a corrupção política e social, enquanto tornam aqueles honestos e bem intencionados cidadãos, (como Betinho e Irmã Dulce) figuras míticas ou  tolas e antiquadas.  Algumas pessoas, e não são poucas, comentaristas de redes sociais estão contaminadas  pela lógica da banalidade do mal, apoiadas por uma mídia dominante que vulgariza  o mal, tornando-o corriqueiro. 

Só o Estado, o capital financeiro  e a sociedade são  "máquinas mortíferas"?...  E nós? 


Chico Mendes e a Irmã Dorothy , assassinados a mando de fazendeiros.


6 comentários:

  1. é TERRÍVEL e doloroso ao mesmo tempo. As fotos estampadas na rede sociais são de cortar o coração . Muito difícil conviver com essa realidade que muitos FINGEM não saber. Regina

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  2. Hoje quando vemos o mal sendo cometido contra os palestinos de gaza, analisamos o papel dos líderes judeus; é a faceta mais improvável da decadência moral de todo um povo e uma liderança que ao longo dos anos quase se especializou em assassinar o caráter de seu povo, em destruir a humanidade das pessoas, fazê-los cometer maldades numa escala tal que não os deixa distinguir entre o que é certo e o que é errado!!! Vemos muitas fotos do povo comum judeu, de bermudas colocando cadeiras nas colinas para “assistir” o bombardeio da faixa de gaza!!! Esquecendo que a cada bomba explodida do lado de lá tinham pessoas morrendo, logo ali na frente ....o bem maior do interesse do estado de israel! O mal não pode ser banal, o mal é sempre extremo, tal é a sua abrangência e alcance! Já o bem pode ser sim total e radical ao mesmo tempo.

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  3. Como escreve bem essa Dadinha no front.
    Obrigado, aprendi muito!

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  4. Para quem escreveu esse monte de merda: ou vc é louca, ou burra, ou ignorante ou antissemita. Para falar alguma coisa de ou sobre um país, estude primeiro sua débil mental!!!

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  5. AO ANÔNIMO AI DE CIMA :as imagens não mentem, vi muitas fotos de judeus assistindo a queda dos mísseis sobre Gaza. OU AS FOTOS SÃO MONTAGENS? PEDRO PEREIRA SOUTO

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  6. ao anônimo de 31 de julho: não SOU ANTISSEMITA COISA NENHUMA! FALEI SOBRE COMO O MAL PODE SER COMETIDO DE MANEIRA BANAL, FALEI DO FILME!!! APENAS ISSO!!! APRENDA VC A LER E INTERPRETAR UM TEXTO.

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