GAZA, BRASIL E A BANALIDADE DO MAL
Trem de judeus para Auschwitz
Ontem assisti um filme sobre Hannah
Arendt , onde ao acompanhar o julgamento do nazista Erich Eischmann ela fala das razões que uma
pessoa tem para fazer maldades. Pensei
muito nisso. Quem produz o mal coletivo como no caso de Eishmann não tem
nada pessoal contra nenhuma das pessoas
atingidas pelo seu mal. É que ele escolhe abandonar sua consciência pessoal em
nome do interesse maior do estado , voltando para aquela zona sombria que
sequer se choca com a “banalidade do mal” por ela praticada. Hannanh diz no filme que foi até lá esperando
encontrar no banco dos réus um monstro, um ser abjeto e se espantou a encontrar
um Zé-Ninguem; um ser humano assustadoramente normal, que só agiu assim
obedecendo uma ordem, de acordo com a lei. Ele era só um homem comum... E Resfriado!!!!
Quando praticou tanta “crueldade”
ele não teve como motivo nada radical nem pecaminoso, nem a julgava um crime de
lesa-humanidade; não estava vinculado à emoções humanas como vingança, racismo, ódio,
semitismo, xenofobia: ele como tantos que cruzam conosco nas ruas e
em imagens de TV, não tem o que ela chamou de “a grandeza demoníaca da maldade":
ele era banalmente mal.
Hoje quando vemos o mal sendo
cometido contra os palestinos de Gaza, analisamos o papel dos líderes judeus; é
a faceta mais improvável da decadência moral
de todo um povo e uma liderança que ao longo dos anos quase se
especializou em assassinar o caráter de
seu povo, em destruir a humanidade das pessoas, fazê-los cometer maldades numa
escala tal que não os deixa distinguir entre o que é certo e o que é errado!!! Vemos
muitas fotos do povo comum judeu, de bermudas colocando cadeiras nas colinas
para “assistir” o bombardeio da faixa de Gaza!!! Esquecendo que a cada bomba
explodida do lado de lá tinham pessoas morendo, logo ali na frente ....O bem
maior do interesse do estado de Israel! O mal não pode ser banal, o mal é
sempre extremo, tal é a sua abrangência e alcance! Já o bem pode ser sim total
e radical ao mesmo tempo.
Hannah Arend cunhou a expressão "banalidade
do mal" após assistir o julgamento de Eichmann, ao observar que não se
tratava de um monstro que enviava as pessoas para os campos de concentração,
mas um homem absolutamente normal, embora medíocre. Ela, como pensadora (não
gostava de ser chamada de filósofa, embora fosse) diz na obra "Eichmann em
Jerusalém" que “a incapacidade de pensar como indivíduo leva o homem a cometer as piores atrocidades”.
A obediência cega, seja a um chefe ou a princípios, sem consciência crítica,
pode resultar na barbárie. Por isso Hannah Arendt dizia que o que aconteceu,
sob as ordens dos nazistas, pode voltar a acontecer em qualquer tempo. Ela
estava certa.Voltou agora, e os atores que sofreram a ação da maldade, AGORA a cometem friamente.
No filme vemos a filósofa como uma
pessoa comum, uma professora envolvida com seu trabalho acadêmico, suas aulas e
pesquisas. Quando escreveu seu polêmico “Eichmann em Jerusalém” ela recebeu
muitas críticas porque a julgaram defensora dos nazistas, logo ela que era judia vinda dos campos de concentração na
França ocupada. A análise dela foi desmistificatória; o carrasco nazista
capturado na Argentina e julgado em Jerusalém em 1962, um homem visto por
muitos como um monstro, um ser maligno,
um louco, cruel e perverso, na sua percepção era apenas um caráter medíocre, comum, um fiel cumpridor de
ordens, que tinha uma postura ordinária
que o fazia igual à tanta gente, e isso causou mal estar entre todos os que
defendiam a justiça e o bem.
Foi justamente a atitude de Eichmann
que permitiu a Arendt cunhar a curiosa idéia relativa à “banalidade do mal”.
Por banalidade do mal, ela se referia ao mal praticado no cotidiano como um ato
qualquer, feito de maneira automática, sem muito pensar. Muitas pessoas
interpretaram a visão de Arendt como uma afronta à desgraça judaica, mas ela era uma filósofa descomprometida com seu povo, religião, partido ou ideologia; só tentava
entender o que realmente se passava com a particularidade de um homem como Eichmann.
Crianças do campo de concentração de Treblinka
A pensadora Arendt não adotava sua
condição de judia como superior ao seu caráter
de filósofa comprometida com a compreensão
de seu tempo. A condição judaica era, para ela, sua condição humana. Não menos,
não mais. O problema da individualidade, das nossas
escolhas éticas que provocam nossa liberdade
e responsabilidade, era a questão central naquele momento para ela. Como hoje lá em Israel e
Gaza, aliás!
A tese da banalidade do mal é uma
tese difícil, não por sua lógica, mas por seu desempenho. Aquele que é
confrontado com ela precisa fazer um exame de sua consciência particular em
relação ao geral e, portanto, de seus atos enquanto participante de um grupo,
de um estado e de sua condição humana. A
banalidade do mal significa que o mal não é praticado como atitude
deliberadamente maligna. O praticante do
mal banal é o ser humano comum, aquele que ao receber ordens não se
responsabiliza pelo que faz, não reflete, não pensa. As pessoas comuns tomadas pelo “vazio do pensamento”, como
imbecis que não pensam e repetem clichês
e que são incapazes de um exame de
consciência.
Heidegger, o filósofo que
diz ter se arrependido de aderir ao regime nazista, e que foi o amor e mestre maior de Hannah era um gênio da filosofia e, no
entanto pouca coisa diferente de
Eichmann.
O aterrador é constatar que entre
Eichmann, o imbecil, e Heidegger, o gênio, está o ser humano comum. O nazista
não era diferente de qualquer pessoa,
era um simples burocrata que recebia ordens e que punha em funcionamento a
“máquina” do sistema! Do mesmo modo que cada um de nós pode fazê-lo a cada
momento em que, autorizado pela reflexão
que une, em nossa capacidade de discernimento e julgamento, a teoria e a
prática, e ai, seguimos as “tendências dominantes”, o “caminho da manada” como
escravos livres de si mesmos.
A banalidade do mal é, portanto, uma
característica de uma cultura carente de pensamento crítico, em que qualquer um
– seja judeu, cristão, alemão, brasileiro, mulher, homem, não importa – pode
exercer a negação do outro e de si mesmo.
Mais uma explosão de míssil em território Palestino.
Em um país como o Brasil, em que a
banalidade do mal realiza-se na atitude autorizada, PELO AGIR DA MAIORIA, na
homofobia, nos preconceitos do racismo, no consumismo e no assassinato de todos aqueles que não têm poder,
seja Amarildo de Souza, Chico Mendes, Irmã Dorothy Stang, seja o adolescente negro da periferia ou da favela, o
sem-terra que ocupou uma fazenda improdutiva, uma parada DE TODOS NÓS PARA PENSAR, pode
significar o bom começo de um crime a menos na sociedade que extermina e na polícia do Estado transformados em máquina mortífera.
Contra os sem-poder, a truculência do cumpridor-de-ordens.
Não nos esqueçamos que também somos
tomados pelo “vazio do pensamento” quando repetimos os clichês disfarçados de crítica contra o mal, quando separamos os vilões dos mocinhos, distinguindo pela aparência os opressores dos oprimidos. São as mesmas que combatem preconceitos
com outros preconceitos.
As mesmas cabeças que vomitam valores isolados, aceitando a baderna
dos protestos públicos dos Black Blocks justificados erroneamente pela ausência de algumas atitudes do governo.
Melhor seria cada um fazer um exame particular e olharmos de frente para o monstro que habita um canto sombrio de todos nós. E nesse auto-exame deixarmos de ser “especialistas” na crítica do
modo de agir e pensar do "outro".
Em nome de interesses pessoais, muitos abrem mão do pensamento crítico, engolem violência e
toleram conviver com aqueles que desprezam.
Para mim, de maneira prática a banalidade do mal está em não assumir o papel de construtor de si e de sua nação, na
falta de visão em enxergar o outro como igual, de se colocar no lugar do outro,
ter respeito e de, ao invés de lutar a todo momento pela mesquinharia dos
direitos individuais dentro do grupo, abrir mão deles auxiliando os outros no dia-a-dia. É o conhecido
e evangélico mandamento de Jesus ”fazer aos outros o que desejamos que nos façam”!
A banalidade do mal em nosso povo
está ligada diretamente ao fato das pessoas estarem se tornando tolerantes com a corrupção política e social, enquanto tornam aqueles honestos e bem
intencionados cidadãos, (como Betinho e Irmã Dulce) figuras míticas ou tolas e antiquadas. Algumas pessoas, e não são poucas,
comentaristas de redes sociais estão contaminadas pela lógica da banalidade do mal, apoiadas por
uma mídia dominante que vulgariza o mal, tornando-o corriqueiro.
Só o Estado, o capital financeiro e a sociedade são "máquinas mortíferas"?... E nós?
Chico Mendes e a Irmã Dorothy , assassinados a mando de fazendeiros.